A queda
a queda de um escritor não é apenas tombar
é falhar a tinta da caneta
desenvolver um medo de perder a cabeça
e transbordar pelo ralo junto aos cabelos sua arte
A queda de um bardo é além de quebrarem seu instrumento
é mais do que cortar seus dedos e sofrer de amnesia
Esquecer o nome da musa que te fez sair do quarto
e ser visto enquanto chora
a queda de um poeta é maior que qualquer tempestade
é não saber de onde vem o trovão que anuncia a chuva
molhar suas folhas recheadas de versos escritos a caneta
ver desmanchar toda aquela dor refinada em arte
a queda de um homem é esquecer que já foi menino
usar seus braços para mostrar-se dominante em seu abrigo
e ameaçar aqueles que dependiam de sua proteção
e jamais poder voltar a sorrir nos braços de sua amada
a queda deste poeta foi perder tudo e ser preso por um muro
ver cortarem de meu peito o amor, prenderem meus dedos nas engrenagens econômicas
ouvir os trovões enquanto tentava repousar
e acordar com carência de seu abraço