LAMENTO
Calada ficou a voz na madrugada
Nada se ouvia além do lamento
Que se misturava com a escuridão.
A aurora cada vez mais distante
O frio em prenúncio de uma solidão insistente,
Parecia o fim!
A tristeza sombria pairava por sobre o quarto
Caíam as estrelas no lapídeo vão da saudade
Lágrimas em torrentes submergiam as mãos tiritantes
Que inutilmente procuravam alcançar o nada.
Vã esperança!
Os olhos cegos, cegos de uma dor doída
Que induzia os lábios a pronunciarem silêncio
Silêncio que perseverava com seu amarume
Transmutando a alegria em lamento
No coração arquejante da alma só.
Parecia o fim!
O sol, a lua, o céu,
Confundiam-se atordoados no firmamento
E a chuva secava os desejos do corpo exaurido
Fragilizado pelo fragor da palavra mal dita
E e a preterição da palavra não dita,
Que o combaliam com sua devassidão.
Cursava a noite, como cursa toda noite
E ao seu findar dá lugar ao dia
Enquanto o corpo, inerte e macilento
Contraía-se em sua insipidez
Em desalento renegava a vida
Pois acreditava que chegara o fim.