Pressão

Às vezes,

(Quase sempre...)

Minha vida me parece

Uma panela-de-pressão.

Euforia,

Depressão...

Acordar correndo

Insano compasso...

O tempo é o carrasco!

E devo perdê-lo

Em um lento transporte

Para chegar ao trabalho

Perder mais tempo,

Então

E ganhar o pão.

Quarenta e quatro horas

Semanais

Ou mais...

Nada demais

Nada nunca é demais

Para eles...

Rotina são as cobranças

Metas, agilidade... mudança!

A mudança é a palavra de ordem...

(Deixe o confronto

E saia da "zona de conforto";

É uma ordem!)

Restam-me, de mim mesmo

Poucos traços

Dos descaminhos que traço

De quem eu era

Há tantas eras...

Os momentos de descanso

Dos quais me decalcam

Tantas responsabilidades

Penso, não sei se isso

É um movimento acelerado

Ou uma infinita sucessão

De quadros estagnados...

Esquenta a água, aumenta

O vapor

Nunca mais fui eu mesmo

Sugado, a esmo

Na contra-mão dos meus

Sonhos

Letárgico, irado ou dormente

Dissolve-se assim,

Minha essência, lentamente,

Na água fervente...

Ler, escrever, imaginar...

Criar?

Nem pensar!

Não há mais espaço

Para o pensamento

Neste momento...

Mergulhado na fumaça incandescente,

Sou um refém do meu bolso

E da minha mente.

Até os discípulos de

Freud

E suas panacéias

(Hoje eu sei)

Não passavam de paliativos

Subterfúgios

Talvez um refúgio

Às "desordenadas idéias".

Questiono sempre os motivos

Que tenho

Para seguir nesse circuito

Louco

Dar tempo

A esse Tempo

Que só me dispensa migalhas...

Agora, sob o apito da panela

A soprar

Sinto-me espalhado, disperso,

Esmagado...

Não. Basta de pressão.

Devo buscar transformação

Ou seja o que for

Para potencializar a fórmula

Com que lido com a dor

E a avareza de minha sorte...

A saída não é a morte.

Talvez paciência,

Foco, auto-controle

E, por fim

Subversão!

Escaldar a face do Sistema

Estourando-lhe a tampa

De sua panela-de-pressão.

Sergio Vinicius Ricciardi
Enviado por Sergio Vinicius Ricciardi em 16/12/2021
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