A TENACIDADE DOS DIAS
Não pisar com os pés sobre a grama
Por onde histórias estão rastejando
As formigas tecem trilhas para fugir
Dos traços que a sina deixa no curso.
Não pintar uma tela com as nódoas
Que magoam a mão em seu desatino
Pensar que o céu pode ter a outra cor
E que os olhos se fecham para o amor.
Nem exausto com o peso dos remorsos
Meu pescoço se verga perante o vento
Sigo cortando o ar com minhas rugas
Indo em busca de cada folha amassada.
Caminhar sobre a relva e tropeçar em vão
Nos erros que afloram diante dos pés gastos
Cambaleante penso que passos são palavras
Escrevendo poemas em praças de guerra.
Tento adiar o time da minha queda final
Mantendo meu corpo sobre a tenacidade
Dos dias que avançam vorazes sobre mim
Dizendo que a areia é cada vez mais escassa
Na ampulheta esquecida em alguma dobra
Do tempo em que eu era apenas ingênuo.