Infância e Desdém

Andavam pelas ruas,

Nuas de qualquer pecado,

Ora o recado da vida,

Viria a tecer em sua vinda.

Em dias escuros,

Noites em claro,

Subiam os muros,

Da vida, carrasco,

Puxou de cada mindinho,

A tecelã entusiasmada,

Que de fininho,

Laçou o garoto e sua amada.

Em tempo que o tempo,

Era irrelevante e mortal,

Pois ceifaria há tempos,

Sua juventude eventual.

O garoto com o laço azulado,

Andava e recriava passo a passo,

E a garota com o laço dourado,

Um pé atrás do outro, em resguardo.

Obrigava-se a criança a brincar,

Pois o tempo tinha que esperar,

A sentença que deveria assinar,

Sob um véu claro e transparente.

Eram brinquedos da brincadeira,

Da vida, de sua gargalhada,

Era tão à beira, fatalmente claro,

Cegavam as crianças, sob a beleza de viver.

Mas cada passo,

Era um encalço,

Sob a ruptura,

Da vida pura.

E tocava, ao entardecer do dia,

O dó, do ré, que mi faz,

Perfaz, perfeitamente,

O crescimento da maldade em toda mente.

Corrompia a brincadeira,

Através da vida adulta,

E adúltera, que trairia,

A traquinagem, a risada, francamente.

Ora, brincadeira de criança,

Comia seu próprio laço,

Que lhe enchia a pança,

O nó, tão fraco.

As crianças, que perdidas na poesia,

Da trovadora e costureira,

Mal sabia que cada risada na avenida,

Era a tesoura que aproximaria.

Mas finge, que faz de conta,

Um final que esperávamos,

Como oferecer a mão a um animal,

Esperando-o com um punhal.

O amor, juvenil,

Incrédulo de seu fim,

Sem cerne, não senil,

Foi-se o serafim.

Entre casas e ruas,

Não havia nem frio,

Tampouco molhava sob a chuva,

Mas ela vinha curva.

Aquilo, não era cabra cega,

Tampouco esconde-esconde,

O pega-pega,

Que a vida sempre ganha.

E pegavam nas mãos,

Um do outro, sem romance,

Mas até mesmo brincando,

Amavam.

Todas as olhadas ao céu tardio,

Ao encontrar olhares sob a ágora,

Agora, procurava em meio rostos,

A fantasia de sua princesa desaparecida.

Vive, o nobre garotinho,

Um pesadelo que nunca quis acordar,

Que se levantar,

O ciclo do amor recomeçar-se-á.

Tem tanto medo de uma opinião,

Responder uma voz que não lhe chamou,

Olhar nos olhos de quem nunca voltou,

A loucura não era opção.

Agora era fatal,

O anzol que fisgou sua infância,

E puxou o prêmio em carne e osso,

Do teu tempo em instância.

Agora vive assim, sob o nó entre dedos,

Mas somente entre os seus,

Pois aqueles que prometeram,

Se desfizeram, pereceram.

Ele vive uma ilusão infantil,

Como brincar de queimada,

Em que não deixa a bola cair,

Não deixa a infância ir.

Tudo que vive, vive por ele,

Sob o sequestro de sua certeza,

Perante toda sua proeza,

Embebeda-se de realidade,

Por um segundo de fantasia.

Era tão fatal,

A falta do real,

Realmente,

Acabou com sua alma e mente.