ALVO
Do índio não se espera nada, não se espelha nada,
tira-se tudo:
Incendeiam suas aldeias, poluem seus rios, envenenam sua água,
mas eles vivem.
Expulsam seus pássaros, roubam seu silêncio, calam sua voz,
mas eles cantam.
Invadem suas terras, entristecem sua alegria, matam seus peixes,
mas eles resistem.
Ferem suas raízes, derramam seu sangue, acorrentam seu medo,
mas eles riem.
Fermentam sua dor, desrespeitam seus costumes, ameaçam sua paz,
mas eles lutam.
Debocham de sua cor, zombam de sua nudez, satirizam sua fé,
mas eles oram.
Discriminam sua linguagem, vigiam suas tribos, aprisionam seus passos,
mas eles dançam.
Mancham sua história, contaminam seu ar, desertificam sua floresta,
mas eles germinam.
Do atroz não se espera nada,
nem o lampejo das sombras de sua dignidade.