TRISTEZA NO PARQUE (Anna de Noailles)

Entremos na relva florescente

onde o sol faz rotas instigantes

que afaga, como mãos, docemente

as sombras da folhagem dançante.

Respiremos os leves odores

que surgem do cálix lutuoso

e degustemos o triste gozo

da atroz languidez e dos ardores.

Que nossos recônditos perdidos

permutem seus aromas secretos,

e que o doloso toque em libido

una corpos e ideais concretos...

O verão, nas vicejantes folhas,

abate-se, abranda e se embriaga.

Mas o homem, o qual tudo naufraga,

lastima dum sonho sem escolhas.

A alegria, o deleite, o carinho,

estão firmemente entrelaçados;

mas, os corações estão sozinhos

e exaustos como galhos vergados.

Por que permanecemos tão tristes

quando o propósito é favorável?

E por que, então, essa inelutável

inclinação para a morte insiste?...

Autor(a): Anna de Noailles (1876-1933)

Título original: La tristesse dans le parc

da obra: Le cœur innombrable, 1901

© Tradução: Ismael Marck, 2021

* De octassílabo para eneassílabo; adaptação do esquema rímico totalmente intercalado (ABBA), para uma alternância entre os esquemas de rimas cruzadas (ABAB) e intercaladas.

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• Anna, Comtesse Mathieu de Noailles (15 de novembro de 1876 — 30 de abril de 1933) foi uma escritora romeno-francesa e uma feminista socialista. Francesa de origem greco-romana, nascida com o nome pomposo de Princesa Anna Elisabeth Bibesco-Bassaraba de Brancovan. Autora de três novelas, uma autobiografia e algumas coletâneas de poesias, a Marquesa de Noailles, como também era conhecida, viveu intensamente no meio da art-nuveau parisiense. Suas relações com a elite artística da época incluiam Marcel Proust, Francis Jammes, André Gide, Paul Valéry, Pierre Loti e Max Jacob. Era tão popular que sua imagem foi esculpida por Augusto Rodin e foi retratada por vários pintores. Sua obra se situa entre o romântico e o moderno, é lúdica, sensual, por vezes erótica, e quase sempre marcada por um tom trágico. Anna de Noailles foi a primeira mulher a se tornar comandante da Legião de Honra e a Academia Francesa a nomeou como um prêmio. Ela também foi a primeira mulher recebida na Academia Real de Letras e Letras da Bélgica (sucedida por Colette e Cocteau).

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LA TRISTESSE DANS LE PARC

Entrons dans l’herbe florissante

où le soleil fait des chemins

que caressent, comme des mains,

les ombres des feuilles dansantes.

Respirons les molles odeurs

qui se soulèvent des calices,

et goûtons les tristes délices

de la langueur et de l’ardeur.

Que nos deux âmes balancées

se donnent leurs parfums secrets,

et que le douloureux attrait

joigne les corps et les pensées...

L’été, dans les feuillages frais,

s’ébat, se délasse et s’enivre.

mais l’homme que rien ne délivre

pleure de rêve insatisfait.

Le bonheur, la douceur, la joie,

tiennent entre les bras mêlés;

pourtant les cœurs sont isolés

et las comme un rameau qui ploie.

Pourquoi est-on si triste encor

quand le destin est favorable,

et pourquoi cette inéluctable

inclination vers la mort?...