Carrasco dos meus sonhos
Por que cortas minhas asas?
Nem mais contigo posso voar?
Por que tanto me arrasas?
E me impedes de sonhar?
Finges que me amas,
Trazes de volta minha paixão;
Depois somes com essa chama,
Apedrejando-me o coração.
Te dei desde o amor possível
Até minha vida em morte, então;
Mas te mostraste tão insensível
E me deixaste só na ilusão.
Não me ocultei à tua vida
Nem esnobei o meu carinho,
Já tu me fazes despedida
E fico eu, aqui sozinho.
Humilhei-me ante teu nome
E te comprei o paraíso,
Matei de amor a tua fome,
Mas não tenho a ti, a quem preciso.
Cedi meus beijos de virgindade
À tua boca já abraçada,
E só provei de tua maldade,
Nessa amante língua envenenada.
As lágrimas se foram em rio
E deixaram-me o olhar,
Que se perdeu em teu vazio,
Não mais amor soube irrigar.
E essas gotas que te verti,
São agora peças de um mar,
Pois tanto augúrio que nelas sorti
Jamais souberam te adocicar.
Comi à porta da miséria,
Bebendo o teor do teu carinho,
Te abastaste da minha mazela
E teu escárnio ainda a mim o vi sorrindo.
Quis ser mais que um amigo,
E tê-la como eterno par,
Curtir às noites sempre contigo:
O doce olhar do azul luar.
Tentei ganhar o teu sorriso
E tocar tua áurea mão,
Mas teu calor que tanto viso,
Já congela em minha escuridão.
Agora fantasma sou:
De vivo tenho só a lembrança,
Até morte teu amor roubou
Numa insólita esperança.
És o carrasco do meu sonho,
A insônia de meu pensamento,
Pesar da veste que me ponho,
Na constância de meu lamento.