O lixo II

Dessa vez, vestida de colorido

Amarelo e verde, antigo e passado

Seis anos ou dez meses

Um pouco sujo, meio amassado

Faz-se visível no raiar do dia

Um domingo que seria calmo

Com as letras das cartas achadas

Quem imaginava o que viria?

No cantinho, pequeno, encolhido

Foi catado cedo, já sabia o destino

Separado para seu fim, olhei o lixo

Cada lágrima reluzia no sol a pino

A revolta consome e a raiva ecoa

Toda dor ataca e orgulho desponta

O presente atende ao mesmo fim

O passado é o presente de lembrança

A imagem do lixo tal como veio ao mundo

Jaz em uma galeria que jamais será vista

Se tudo é covardia, sinto um veneno amargo

Vejo no lixo os trapos em pedaços de papel

Na falta de coragem há sinais

E mesmo sendo lixo, nota-se decepção

No mundo tão descartável

O lixo é só um pedaço de lixo

Talvez o lixo ainda tenha algum valor

Vê-se como numa história triste

Mas depois do fim, a dignidade deve imperar

Até o lixo deve saber seu lugar

Desconfigurado, com rimas sem rimar

O lixo segue com seu eterno penar

Afinal, ao ser atirado

Nada resta a fazer, nem mesmo superar

Cheio de mágoas e de esperanças vazias

Revirado no calor e no frio da angústia

Remoendo cada pedaço de tortura

Tão nua, quanto perdida

O lixo largado, enrolado, atravessado

O lixo continua sendo eu

O lixo, de fato, está no seu lugar

No lixo

Tamyrys Hadassa
Enviado por Tamyrys Hadassa em 03/10/2021
Código do texto: T7355861
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