O lixo II
Dessa vez, vestida de colorido
Amarelo e verde, antigo e passado
Seis anos ou dez meses
Um pouco sujo, meio amassado
Faz-se visível no raiar do dia
Um domingo que seria calmo
Com as letras das cartas achadas
Quem imaginava o que viria?
No cantinho, pequeno, encolhido
Foi catado cedo, já sabia o destino
Separado para seu fim, olhei o lixo
Cada lágrima reluzia no sol a pino
A revolta consome e a raiva ecoa
Toda dor ataca e orgulho desponta
O presente atende ao mesmo fim
O passado é o presente de lembrança
A imagem do lixo tal como veio ao mundo
Jaz em uma galeria que jamais será vista
Se tudo é covardia, sinto um veneno amargo
Vejo no lixo os trapos em pedaços de papel
Na falta de coragem há sinais
E mesmo sendo lixo, nota-se decepção
No mundo tão descartável
O lixo é só um pedaço de lixo
Talvez o lixo ainda tenha algum valor
Vê-se como numa história triste
Mas depois do fim, a dignidade deve imperar
Até o lixo deve saber seu lugar
Desconfigurado, com rimas sem rimar
O lixo segue com seu eterno penar
Afinal, ao ser atirado
Nada resta a fazer, nem mesmo superar
Cheio de mágoas e de esperanças vazias
Revirado no calor e no frio da angústia
Remoendo cada pedaço de tortura
Tão nua, quanto perdida
O lixo largado, enrolado, atravessado
O lixo continua sendo eu
O lixo, de fato, está no seu lugar
No lixo