Esqueletos
Eu enterro esqueletos,
Enterro esqueletos,
Ossos tão seletos,
Dos mais espertos.
Ossos que conversam,
Com a boca cheia de terra,
Dizem, falam,
Como não deveriam falar.
Estou suando,
O sol bate sob minhas costas,
Ando cavando,
Trancafiado entre as portas.
Ossos que não esfarelavam,
Iguais sentimentos ao verão,
Sob sol, queimavam,
Mas carne nunca serão.
Preso em catacumbas brasileiras,
Dos ossos sob as palmeiras,
Marcava a lua o cálcio ósseo,
Tão fundo quanto um fóssil.
Não era nem maldade,
Tampouco ironia,
Era mais uma saudade,
De quando a boca vívida ria.
Preso eternamente num viver,
Que poderia me fazer morrer,
Morrer em alegria,
De viver em simpatia.
Mania tão fatal,
Mas tão rotineira,
Enterrava em meu quintal,
Junto a minha jardineira.
Cobria com chapéu,
Os olhos ou a vergonha,
Um simples véu,
Escondia corpos em Fernando de Noronha.
Quantas histórias diziam pelo cavucar,
Encontravam os ossos com a pá,
Enterrava ou desenterrava?
Qual é dessa tarefa árdua?
Enterrando esqueletos,
Que falavam em silêncio,
Fingindo que se importavam,
Fingiam que amaram.
Seria tarde demais,
Dizer algum agradecimento,
Deixá-los tão tagarelas,
Ciumento.
Quando a noite cai,
Parece que estou a acordar,
Quando o sol se vai,
Penso que estou a deitar.
Noite, dia, não importa,
É uma tranca sem porta,
Pois o mais cheio que chegou,
Foi o coração vazio que restou.
Enterro esqueletos,
Esqueletos brancos como a neve,
Que o norte de Minas nunca viu,
Mas que teve um dia frio.
A terra não adianta,
Não se calam,
Nem no frio com a manta,
Eles falam.
E indo dormir,
Penso que estou acordando,
Logo vou sonhar,
Que não estou mais enterrando.
Esqueletos que pronunciam,
Meu vários nomes,
Não é morte, muito menos sorte,
Mas as fomes.
Fiquei preso com uma pá,
De enterrar esqueletos longe do mar,
Enterro ossos,
Que um dia serão nossos.
Estou tão cansado,
Mas tenho trabalho a fazer,
Quero ser enterrado,
É o meu dever.