Lágrimas salgadas
Abra a janela,
respire a alvorada do novo dia,
perfume de orvalho e grama,
geada sobre os telhados e carros,
frio que adentra almas tristes,
nada dura mais do que um momento,
assim nossa vida se esvai minuto à minuto...
Abra a porta,
caminhe sem pretensões,
trôpegos passos sem direção,
em uma colina solitária,
ouvindo o som dos pássaros ao longe,
nada permanece no desenrolar do tempo,
assim nossas memórias se perdem no movimento...
Grite do penhasco,
aguarde seu próprio som lhe retornar,
ecos de passados desconstruídos e presentes dispersos,
não se preocupe com o amanhã que ainda não existe,
não há raízes profundas que tempestades não levem,
nada é eterno senão na efemeridade de uma flor,
assim nossas expectativas se diluem no fluxo dos dias...
O amor é uma invenção para tolos iludidos,
sentimento que aprisiona, machuca e se desintegra,
marcando com cicatrizes perpétuas,
lembranças que não são guardadas,
partindo ao meio quem fica,
lançando no esquecimento quem se vai,
quando sentimentos viram gelo derretidos ao sol,
Quem somos nesse jogo de fiéis perdedores?
Pássaros voando com asas feridas?
Pierrôs sem carnavais, com lágrimas tatuadas no rosto?
Cavaleiros lutando contra moinhos invisíveis?
Coloque um ponto final,
no enredo que tanto lhe faz mal,
na narrativa não há encontros,
pois vivemos de desencontros certeiros,
buscando eternidades que escorrem entre nossos dedos,
como areia no deserto que cega os olhos e desaparece,
assim nossa jornada torna-se uma repetição de perdas e danos...
Creia, não há deuses,
não há céus ou paraísos,
não há portais ou promessas cumpridas,
essa fé é apenas um conto, uma ficção da mortalidade,
nos envolve com suas esperanças vãs e nos tira o chão,
enquanto caímos em um abismo escuro de sentidos e humanidade,
assim nossa existência é essa reduzida realidade de lágrimas salgadas...