Cinzas
Este lugar não tem mais nada a me oferecer,
eu não quero ofertar nada mais de mim a este lugar,
não há merecimento,
não há raízes,
não há pertencimento,
não há referência,
ninguém para se importar,
só memórias desgastadas,
vazios amaldiçoados,
fantasmas acorrentados,
dores latentes,
agonias surdas,
sorrisos apagados,
sonhos estilhaçados,
Só me resta um desejo:
ir embora, sem olhar para trás,
na indigência de quem sai escondido,
correndo, correndo,
na calada da noite,
sem despedidas,
sem bilhetes,
sem justificativas,
sem saudades,
apenas parte,
sem bagagem,
sem rota,
sem bússola,
se esvai,
logo, é esquecido,
sepultado por novos acontecimentos,
porque aqui já não contava,
jazia vivo, porém sem alma,
em uma lápide invisível,
fora daqui, não fará falta,
afinal, mortos são mudos
e meu silêncio sempre foi vida.
Cremem os rastros que restarem de mim,
sou cinza, sou cinzas...