Lamento de um Deicida

Sem cerimônia, eu apunhalei as costas de Cupido

Co'a mesma covardia de quem mata um César.

O golpe deferido na carne divina ardeu sem cessar,

E fez doer também o seio de seu algoz maldito!

Desde então, a culpa e a devassidão me corroem mortalmente,

Demônios e fantasmagorias agora me assombram,

Tudo se tornou um dia eterno, uma dor crescente;

A bonomia, a ventura, a altivez, por onde andam!?

Em meus excessos de loucura, eu fiz a mais pura questão

De ser o detestável coveiro do Deus do Amor!

A última pá de terra, fui eu quem a colocou;

E agora choro inutilmente, com o punhal em minhas mãos!

Com a injustiça de um louco eu imploro por perdão,

Enquanto com necromancia infernal tento ressuscitá-lo

Mas já não me assusta perceber que este é um esforço vão

O Deus está morto, e agora é impossível outra vez despertá-lo!

Meus sentimentos me atormentam: eu nunca soube como amar!

Agora toda noite soluço a dor dessa paixão que eu mesmo findei,

Me sinto profundamente arrependido, infinitamente a lamentar

A sensação maldita de ser o assassino do Deus que eu mais amei!

28.08.2021