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Eu amei alguém um dia desses…
E eram 5 anos pós 2a Guerra
e eram 2 semanas após
o fim da História sem Fim da escravidão.

Eu vi crianças sendo adoradas
como esculturas de deusas
e ao mesmo tempo, noutro
espaço deste mesmo universo

tinham suas cabeças atiradas
nos muros dos campos Nazistas
eu vi sorrisos… eu vi sorrisos
entre ladeiras.

que pareciam chegar
no portão do Kit net
onde DEUS hoje reside.

Eu amei alguém um dia…
E então vaguei por entre hospícios
e vi cadeias e vi assassinos…

Vi assassinas e estupradores
Filicidas e matricidas.
não havia justiça e injustiça
mas todos se declaravam inocentes.

E os amei, assim como amei
os vizinhos de porta e rua
assim como amei os bêbados
amei os chatos e os cheiradores de pó

Eu amei alguém por esses dias…

Estávamos nós de mãos dadas
indo votar pela primeira vez
entre gritos e faixas, cuspes e xingamentos.
indo comprar pão ou subir num trem.

Foi quando me sentei pra escrever…

Eu, numa mesinha branca
enquanto o fim do mundo eclodia
e uma flor desabrochava e por entre
brechas e pedras, nascia outra vez.

Todos se fizeram
presentes em eternas promessas
e os pregos nas cruzes eram
como canetas e teclas.

Machucavam e sangravam
meus dedos e removiam
toda a minha identidade.

Queimaduras, torturas e choques
eu os amei, ainda que desalmados
eu os amei encarando as janelas fechadas
de casas e quartos.

E pude enxergar através delas.

“estou vivo…” – pensei.
“estou vivo…” – pensei.

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*Pintura - "The Door of Hope", de Maha Zeeshan.