Clementinas

Tem início o espetáculo,

Foram abertas as cortinas,

Histórias de vida rasas,

Histórias de Clementinas.

Clementina foi escrava de senzala,

Vendida ainda quando era menina,

Lei assinada, não lhe garantia nada,

Nem da princesa Isabel ela sabia.

Viveu presa em um quartinho de empregada,

Passeava do banheiro à cozinha,

O mundo novo lá de fora assustava,

Monstros, que os donos criaram,

Os monstros com ela viviam.

Velhos trapos rasgados ela usava,

Comia restos,

Antes de ir a pia.

Doença,

Reza ou um chá logo curava,

Se descansava,

A dona vinha e batia.

Ela aguarda por alguém ser resgatada,

Não era vista,

Invisível aos olhos da humanidade,

Dina de um olhar que grita de desespero e agonia.

Vê os patrões agradecendo a um Deus de misericórdia,

E ao mesmo Deus,

Roga pela acolhida.

Tem Clementina que vive em outra realidade,

E a violência toma conta de seus dias,

A força bruta, frente a fragilidade,

Um homem rude,

A agride noite dia.

Ela tem medo de acionar autoridades,

Faz o possível para poupar sua família,

Quando um covarde se veste de integridade,

E usa bíblia,

Para afirmar o que não se justifica.

Há Clementina em uma outra extremidade,

Onde a morte a ronda a vida noite e dia,

Religião que prega a extrema crueldade,

E sem direitos,

Se torna a vítima favorita.

Andam de burcas,

Roubam sua identidade,

Vive para o filhos,

Uma escrava da família,

Onde aplaudem essa tal perversidade,

Apoiadores, de olho na economia.

Peço clemência ao Senhor da humanidade,

Pois Clementinas choram e pedem por suas vidas,

Milhares mortas, já virou calamidade,

Olhos se fecham,

Perante a impunidade e covardia.

Somos iguais perante a lei,

Porém a prática se difere da teoria.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 18/08/2021
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