Irrelevante
Obrigado por tua distância,
Continência que bate no dia
Precioso que deu-me alegria
Mesmo quando eu não era capaz...
Agradeço o desdém na pobreza
Que me deste, por vã primazia,
No momento que a vida trazia
A pungência e uma dor tão voraz.
Obrigado por ver meu sorriso
Através de uma tela _amoled_,
Num fingido sentir, que te impede
De chegar bem mais perto de mim.
Não importa o que eu, velho, repense,
Que deseje por dentro, em meu íntimo,
Pois sou pobre e o meu ter é tão ínfimo,
Não mereço sequer um flautim.
Não mereço ter a companhia
Numa tarde de outono ou de inverno,
Não mereço cerveja, falerno...
As histórias do teu dia a dia,
Os segredos que tens bem guardados
Lá no fundo do teu coração
Já que tu não conheces o quão
Aprendi com a minha agonia.
Não mereço um abraço feliz
Em teu dia de riso contente,
Porque tu tens abraço de gente
Que nem viu quando eu tanto sofria,
Acordando repente de noite,
Levantando na vil madrugada
Pra pegar bem no cabo da enxada
A plantar essa tua alegria.
Todos eles te dão parabéns
Nessa data feliz para ti,
Mas não sabem por que padeci,
Por contigo não mais comungar.
Tanto faz!... Ora deixa pra lá
O meu pranto que lembra derrota
E que a vida nem deu sua cota
De tormentos sem risos, sem par...
Ora vamos, ó deixes os teus
Comungarem contigo o teu bolo,
Porque sei que este velho que é tolo,
Almejando resquícios de afeto.
Sejas sempre feliz, otimista,
Não cometas pecados insanos,
Eles todos mudaram meus planos
De alegria e de sonho concreto.
Não te importes com minha lamúria!...
Tanto faz este meu sentimento,
Se ele mata ou me causa lamento,
Se de dor o meu peito se esvai!
O que sei é que tu não conheces
Esta dor que carrego comigo;
Não contei nem sequer pra um amigo,
Mas um dia também serás pai!
Nesse dia o teu peito vai ser
Preenchido com gozo supremo,
Pegarás em teu barco o teu remo
E farás um jardim dessa flor
E se o mar, de repente, bravio
Levantar para ti um leneu
Lembrarás deste pranto só meu,
Entendendo de fato este amor!