TEMPOS DE FÚRIA
Isaques desobedientes,
Abraões descrentes,
Evas evasivas,
Mortas águas vivas.
Claríssimos nanquins,
Grossos papiros
E todos fins sem fins,
Planeta sem giros.
Rutes maldosas e egoístas,
Santas dançando nas revistas,
Abéis agora assassinos
E Cains entoando hinos.
Pegajosas pérolas
Finíssimos pergaminhos,
Vidas alheias às células,
Retidões no desalinho.
Maldosas caridades,
Babilônias sem redomas,
Ritos calmos em Sodoma,
Babéis cheias de verdades.
Nilos incrustam liberdades,
Jordões agora profanam:
Calam-se todas cidades
Enquanto campos ressonam.
Calam-se bem te vis cegos,
Queros queros sem vontade,
Tomara que caias se levantam,
Árvores agora é que ventam.
A colheita planta,
O plantio colhe:
Nenhuma flor canta
Sob sulco que a tolhe.
A Lua está aluada
E o Sol é todo gelo.
O todo faz-se nada,
À ordem pelo apelo.
As ruas, os róis de entrada
levam-nos agora alhures
Para ponto nada amável,
Todo porvir parece inefável.
Os ventos na rosa
não são rosas do vento,
Acentuar as prosas
Fará quebrantos bentos.
O amor retorna à Roma,
Gáudio ao despejar de sangue,
Flores esquecidas de aromas,
Secura encharca todo mangue.
Dormências todas despertadas,
Sementes fizeram-se semânticas,
Nenhum quanta na esfera quântica
Deste Big Bang que gera o nada.