Escuro
Eu olhei para o espelho e vi meu maior problema:
Não me falta um pé de coelho, ou uma dourada diadema
Na realidade é o que falta na matriz
E a velha verdade: Não sei ser feliz.
Não me julguem com tanta pressa.
Acaso alguém faria melhor do que eu em situação como essa?
Sim, e isso é pessoal dilema, o faz por ódio ou amor?
Amigo, se você busca um poema, isso é um grito de dor!
Eu fiz um castelo de areia, longe, na duna.
Distante da água que permeia, onde a flor sofre dura pena.
Mas o vento que corta e sopra desmancha meu palácio
O mesmo faz na alma torta de corpo flácido
Se de barro e Sopro sois
Se tenho o carro, me faltam os bois
Se me falta alma, abunda o corpo
Se me atinge o carma, me vejo pobre e morto.
Não é que não ria da piada
Não que em vão me jogue à estrada
Mas logo o riso se vai
O lodo da água retrai
Não que na multiplicidade eu não tenha respostas
Mas na vila ou na cidade ainda a vida é morta
Por favor, entenda, que no frio eu tremo
Mas no braço à emenda, temo.
Mendigo ainda afeto na Casa da Abundancia
E acabo feto, mera criança
Que é no lamento e na lágrima
Em tormento, na dor pálida
Não mantenho o calor do peito
Me tenho em oceano, de choro feito
Onde a água cobre, o corpo desce
O ar foge, a morte cresce
Se eu me vejo livre, sem grilhões no membro
Sorrio leve, e do bom sabor lembro
Mas logo o braço pesa, algo me segura
Então me arrasta pra aquela velha e fria sala escura
Que fogo não queima em mim?
Ah, poço no peito que não tem fim!
O enchi de vinho, de gozo e de poema
Mas é de falta de carinho que agonizo em pena.
Me estende a mão mais uma vez?
Para que não mais perca a sensatez.
E das questões que o crepúsculo faz crescer;
Resta: Mãe, quanto falta pra amanhecer?