FILHO DO ERRO
Como uma pedra sobre os ombros
Geme a auréola sobre a consciência tosca
Uma camisa de vênus que sufoca à força
Lembranças tênues de distante inferno...
Eternos soluços, mágoas e desentendimentos
Eterna guerra... poder... descaso...
Um caso apenas... sem solução!
O passado fica no passado...
O presente é ócio, desilusão!
Sem eiras ou beiras, sem destino certo...
Solidão... Ausência... elo eternizado...
Filhos de uma guerra sem sentido!
Forjados... nas entranhas de um estupro consentido!
Da natureza humana, um fato sem razão...
Errar é humano... É dolorido...
Viver – uma perdição...
Filho da Noite, Filho do Acaso!
Onde jaz tua mãe, em estado crítico?
Não te enxerga ao leo em estúpido erro?
Em que desterro sepultado o grito?
Que não te vê... Que não se importa?
Sua decência, sua cruel situação!
Mesmo que viva, já está morta!
Não mais te acaricia...
O horror da vida, atrás da porta se esconde...
Mas onde?
Onde está a tua origem?
De que começo foste tu formado?
Não há sequer um único registro, um dado apenas...
Onde está a mão para afagar tuas penas?
Para minimizar as dores...
Filho da Noite, Filho do acaso...
Que por acaso é também Filho do Açoite...
Erro do ladáiro das vias de pedra...
Cadê teu pai? Tua origem não informada?
Filho da violência, da forja do erro da espada
Onde está o teu passado?
Tua vivência acabou-se em nada!
Digno és de ser tão esquecido, abandonado...
De ter no teu estado deplorado culto
Oculto no pensamento lúgubre do passado...
De onde vem teu Círio, tua caminhada?
Qual teu destino? Teu objetivo? Em que parada?
Tua sacra via desterrada e nua
Não te informa do teu obscuro desatino...
Crua e insípida, continua a vida
A te implorar que acalmes a tua jornada...
Cadê teu pai? Filho do Nada?
Teu irmão se foi... Esquecimento em vida!
De ti se escondeu em algum gueto, escuro e profundo
Tua única companhia, teu porto seguro...
Se foi, como alguém que desaparece no fim do longo e tortuoso muro...
Só, tu e a solidão, tua companheira destemida!
Seguem adiante, sentados, lado a lado...
Em uníssono canto destoado e fúnebre...
Na sua procissão de vida tosca e fria...
Mesmo na multidão de vidas, não há companhia...
Não há cumplicidade... Não existe confiança...
Dentro da fúria nos olhos vermelhos e incandescentes
De uma maldade própria dos que inocentes
Reverberam com promessas...
Não há mais tempo à disposição!
Nas frias promessas só desilusão do acaso
No caso de um alguém privado...da companhia do fiel irmão!
Tua cúmplice, paixão inseparável e mórbida
Teu corpo estremece, noite adentro
Irmão do ocaso, gêmeo do esquecimento...
No teu queixo trêmulo, no lábio mordido...
Na lágrima seca, que não escorre ao rosto
Seu vazio, sua essência escura, negra...
No negro véu que cobre seu amargo asco
Gera seu pranto... indescritível a dor...
De uma existência mórbida e sem sentido
De um escrito líbico em gemidos...
Cicatrizes invisíveis aos olhos descuidados
Gerando n’alma um grande furor
De basco ser no seu interior, na sua essência...
E não reconhecido pelo seu torpor...
Gélido e paralisado, seu corpo se sustenta a calma...
Recebendo em si mesmo projéteis doloridos
Por onde anda seu majestoso amigo?
A ti abandonou, por um outro amor...
Segue adiante...
Escuro viajante da eterna dor...
Teu cortejo em vias, desprezado e trágico
Segue adiante...