Abstração de uma vida
Temo em velho ficar
E alheio a tudo e a todos.
E em não saber quem um dia
Fui nos ensejos da existência;
Em não poder compreender mais
Os sublimes versos que um dia tracei
Aos delírios dum amor tórrido e insano;
Temo em folhear meus livros
E no meio de suas vetustas páginas
Uma fotografia nublada nossa:
Abraçados e, porém, felizes:
E olhar e olhar e tentar decifrar
O crivo cruel do tempo
E não saber atinar quem tu foste em minha vida
E aquele jovem ao teu lado um esquecido eu
Em nossa perpetuidade lograda do tempo e da morte.