Distopia
Oh, saudosa Vila dos pretos e brancos, tão Rica!
Suas pedras e solavancos ecoam em minh’ alma
Como bálsamo que por vezes me acalma
Teu adultério em chaga corrupta ri, futrica
Oh, saudosa terra, que há muito me fez perene
A lutar pela liberdade deste humilde povo
Seja em Lisboa ou Brasília, te devolvo
Berros paridos do meu discurso, solene
Se me perco em lamúrias deste tempo menino
É que tua pureza, era perdão pago em ouro
A meirinhos vadios, patrícios e crioulo
Por seduzir e roubar, teu segredo pequenino
E por lá deixei, lágrimas em versos ruídos
A escorrer pelas trancas de velhas portas
Das igrejas douradas por obras mortas
Santifiquei rebocos e livros corroídos
Pelo suborno, tua riqueza se fez miséria
Corrompendo estrofes e almas
Da derrama pecadora se fez problemas
A difundir a pula deletéria
Manietaste meu sudário emagrecido com grilhões
Perder o viço no patíbulo foi meu sacrifício
De sermos libertos, esperei por benefício
Da forca ou na cela lúgubre forjastes falsos vilões
Seus ferros e lanças não me tirarão o desejo
Para o berço voltar e meu ódio enfim, descansar
Pelo coração dos malditos, nada a esperar
Viverás em breve tu, e corjas meu despejo.
Se das torres, o palácio do czar veio tombar
Fincado nas leis imperfeitas que burlaram
A morte e as dores para todos perfilaram
E o arbitro da justiça ressurgiu a nos zombar
Contra o repertório divino ninguém intente fugir
E nos dias de hoje, o acerto se faz por sufocamento
A reencontrar-nos por medo e arrependimento
Já que tua cura é a causa desse afligir
Nas escotilhas de tua mente está todo o pavor
Escondidos por milícias e dragões
A mando dos louros fidalgos cagões
Se fantasiam em fardas e ternos de uma só cor.
E no fim, fincado na cruz foi um privilégio
Ainda sou este homem, a não merecer este altar!
Que há muito não deixou de crer e pecar
E tuas rezas não nos salvará deste sacrilégio.