O mal do Aguardente
Três décadas já fazem, que tomei o primeiro aguardente
Direto do engenho no longínquo Maranhão
Desceu queimando como fogo, meu nariz virou canhão
Jurei não tomar mais tal desgraça, mas esqueci de repente
Achavam bonito quando eu bebia, já era adolescente
Jogava um pouco pro santo, ainda me benzia
Logo foi virando costume e eu fui gostando da putaria
Eu era tímido, e achei o remédio pra ficar saliente
O que era só fins de semana, virou recorrente.
Tudo era motivo pra uma caipirinha ou uma cerveja
Aniversário, natal e toda data comemorativa servia de bandeja
Conhaque na gripe e cachaça no inverno pro corpo ficar quente
Cachaça amansa o corno e torna o frouxo valente
Já maduro, dei de beber todo dia
Sob chuva ou sol, e a música trás nostalgia
Triste ou alegre, beber me faz ou fazia sorridente
Por causa dela, trago marcas no corpo e na mente
Quando tomo a primeira dose não quero mais parar
Vezes fico tão dominado pela malvada que nem vou trabalhar
Queria voltar no tempo, e quebrar essa maldita corrente
Tenho tentado para de beber no tempo recente
Tenho gastado o que tenho e ferido quem me ama
Dormido sujo e vomitado, caído na lama
Além de danificar os órgãos ela estragada o dente
Após beber pra esquecer, sofri um acidente
Um, dois, três, quatro perdi a conta e a noção
Agora quando bebo, fico triste. Já que perco a razão
Já quebrei a perna e a cabeça literalmente
Na bebedeira, briguei sem razão e agredir um parente
Não me imagino sem beber, mas me arrependo toda vez
É bom afogar as mágoas, porém é melhor a lucidez
Hoje queria voltar atrás pra continuar em frente
Beber é um vício como qualquer outro, forte e potente
Há quem diga que é fraqueza ou falta de força
Beber é bom, levar pra longe as dores da vida insossa
O perigo é a primeira dose, pra quem é rio corrente
Parar de beber não é fácil, nem acontece no repente
O primeiro passo é admitir nossa fraqueza
E que não podemos chegar perto do álcool, ó tristeza
Sim, tristeza é o que todo cachaceiro sente