A praia
Era sábado, os primeiros movimentos na casa já indicavam que o dia seria animado.
Café no coador e pão fresco na mesa, aquele era um belo retrato de boas lembranças.
Risadas e conversas, agitação. As crianças já comeram? Alguém viu meu chinelo rosa da xuxa? Já passou o protetor?
Do asfalto já se podia ver, os dois tons de azul se encontrando e dividindo o horizonte.
Chinelo na mão e areia nos pés.
A sensação, o primeiro encontro com as ondas do mar.
Sal nos olhos, pele queimada, o que é isso na minha perna? Todas essas peças se encaixando e se transformando naquele sábado.
A água é gostosa, fazendo movimentos de vai e vem a cada instante.
Diante de toda distração de repente um sussurro. E então você olha. A praia já não está mais tão próxima, as pessoas indo pra lá e pra cá sem perceber. Então a urgência: eu preciso voltar. Mas como foi que cheguei até aqui?
Braços e pernas se enroscando e se desgastando.
Mais sal nos olhos, água na boca, nos pulmões, em todo lugar.
O vai e vem mais rápido e mais forte do que você poderia nadar.
Um grito e nada sai.
Outro grito, mas o mar não deixa.
Você olha e tudo está cada vez mais distante.
O sol já está se pondo.
As pessoas estão saindo, nada mudou.
Você está cansado. Não tem mais forças pra voltar. Nem se lembra do por que queria estar lá, na praia. Então se deixa no vai e vem.
A noite, seres que você não conhece, não entende, mas que estão ali, te preenchendo. Durante o dia, um céu azul pra distrair e esquecer da noite.
Cada vez mais próximo, o profundo e o vazio. Será que eu posso ir até lá?
Nada mais restou, nada mais importa, agora são só lembranças de bons momentos que nunca mais existirão.