Genocídio

Um grito sufocado na garganta,

uma lágrima empedrada nos olhos,

bolas de ferro em cada perna,

a dor de cada morte sobre os ombros.

Sei que não estou só na angústia,

mas sinto-me como uma ilha,

rodeado de ignorância e apatia,

desdém e crueldade,

desconectado da realidade pungente.

Sonho em preto e branco

com um futuro colorido,

uma nostalgia doída

diante de uma desesperança

renovada diariamente.

Uma sensação de açoite

pelas mãos dos capatazes,

outrora irmãos, agora algozes.

Busco refúgio com quilombolas,

somos perseguidos pelo capitão

do mato

da selvageria

da escuridão

da ignorância

da face revelada pelo ódio

injustificado

infértil

inescrupuloso

imbecil.

Agarro-me ao que me resta:

a fé cega no amor.

Amor aos meus filhos

meus pais

meus amigos

minha Carreiras

meus irmãos.

Que o amor supere, soberano,

diante de toda dor

que se abate em todo o mundo,

principalmente onde Deus abençoou,

para que um milagre console toda gente

e os desperte do transe demoníaco,

a tempo da reconstrução da vida

que deixamos no futuro,

antes desse genocídio.