Vivos e Mortos

Continuamos a chorar nossos mortos

Por tradição, por desculpas

Por culpa ou dissimulação

Por saudade, por solidariedade

Às vezes, até, por compaixão

Só sei que choramos

Por vezes, um choro seco

Dramatizado, teatralizado,

Tudo, menos um choro chorado

Apenas um choro forçado

Improvisado, inapropriado

Um choro,assim, disfarçado

E nos vamos em caravana

Para o fim da caminhada

Juntos, na última procissão

Onde se confundem vivos e mortos

Todos num mesmo caixão

No morto, atiram-se flores

Como lenitivo, com perdão

Tenta-se minimizar sua culpa

Na sinistra e sofrida procissão

Depois, cobrem-lhe de terra

Como fim de sua longa espera

Pelo carinho que não sentiu

Pelo amor que dele fugiu

Pelo beijo que não gozou

Pela palavra que não escutou

E voltam os vivos, já dispersos

Como vítimas de imolação

Pois já menor aquela procissão

De pouca fé e muito ceticismo

Agora, só individualismo

Mais uma vez, perdeu-se a lição

02/11/2007

Paulo Gondim
Enviado por Paulo Gondim em 02/11/2007
Código do texto: T720766
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