Não me leia

Não me leia, não

Não me leia pois tenho medo do que posso te dizer

Não estou no controle, não me leia

Não sou os versos ensaiados em que tanto me apresentei

Sou rima caótica de desabafo

Já fui poesia, um dia, falando de amor, do sol e da saudade

Já fui histórias da infância, com riso e briga de brincadeira

Já fui invenção de novela de investigação

Já fui letra de música amorosa

Agora sou só desabafo, não me leia.

Não passei por rascunho e não quero te fazer mal

Juro que preferia me calar agora, mas me confesso mais rápido do que o meu bom senso pode censurar

Eu sou versos desesperados, Sou a cólera necessária para romper uma barragem criativa

Uma barragem nunca antes enfrentada. Tanto, tanto pra dizer, mas quem eu queria que ouvisse, não ouvirá. A motivação das minhas rimas vai tão longe, que não quero escrever a ela. Mas escrever a quem, então?

Não escrevo

Tudo se acumula

Até que rompe, aqui, agora

Foge, não me leia, me deixe quieto, gritando sozinho, é vergonhoso demais que me vejas assim.

Não, me deixe no chão, venho me apoiando nas paredes e nos ombros há tempo demais, preciso logo ralar os joelhos para que sarem enfim.

Não, não me consola. Deixa eu chorar por alguma coisa, deixa, deixa eu chorar. Não me pergunte nem aconselhe, eu preciso ser patético, agora.

Agora, por fim, me deixe. Você ficou, me leu, me ouviu, me largou no chão. Eu te agradeço. Mas quero me recompor sozinho. Saia enquanto finjo dormir sobre minhas lágrimas. Deixa-me recolher os meus cacos sem o seu olhar.

Preciso desse tempo.