Na esquina em que a porta se fechava
A manhã nasceu desordenada.
Tinha nos olhos plasmados sobre as coisas
a dolência dos Deuses revisitados em panteões idos e,
nos lençóis esquecidos, como que perdidos,
permaneciam ainda lenços bordados de cambraia
… lenços dos namorados.
Em cada ruga, num segundo preguiçoso
de madrugadas de Maio,
em cada cheiro em que a rua respigava
liturgias de silêncio,
em que, de lá de fora, a vida lhe espicaçava
num Sol mortal d’alma nua,
vinham, como quem chora, palavras em catadupa,
dobradas no beijo p’la cintura dos joelhos.
As que usara quando lhe falara d'enlevos
de corpos justapostos,
de desenhos navegados de tão lentos,
de sentimentos revoltos,
d’afectos soltos, soltos,
… nas crinas intemporais dos braços do tempo.
Na esquina em que a porta se fechava,
em que a noite a escurecia na palidez do dia,
aniquilou-se em si
se, das dobradiças desengonçadas Novembro
se atrevia e respirava.
Não, já não chorava. Morria!