O enterro da Cotinha
O cemitério era tão pequeno
Que as sepulturas vomitavam cruzes,
Mármores e lápides escuras,
Em cima de uma terra molhada
Que escorria a tristeza dissolvida...
A mureta segurava o corrupio dos corpos,
E dos ossos húmidos e desligados
Que aguardavam mais um fétero.
Cova livre, funda e escancarada
Mostrava a sombra e o abismo,
Preparado para engolir a carne.
Os coveiros limpavam a testa
E as pás perfiladas, em volta.
Alguém lembrou o vazio de todos nós
E a certeza de morarmos ali um dia;
Terra do resto dos nossos corpos...
Caiu um silêncio breve e apagado.
O caixão foi suspenso pelas cordas
E as nossas mãos apertaram-se no vazio.
A descida foi rápida e impiedosa,
Até atingir o silêncio daquela morada.
A um pequeno sinal, começaram as pazadas;
Dum lado e do outro, breves e carregadas
De terra pesada, densa e vermelha...
O som lembrava uma madeira oca e seca,
Miseravelmente açoitada por aquela tristeza.