Dois anos depois
Se numa manhã
eu lhe propusesse roubar um banco
e levantar uma prata
pra não precisarmos mais vender
nosso ócio a preço de batata,
seus olhos pegariam fogo
e pela noite
o plano estaria pronto.
Se numa noite
de viagens literárias
entre nossas transas, surgisse
a ideia de derrubar o governo e decretar
pra todo mundo ser feliz,
faríamos amor de novo
só pra comemorar.
E se depois já adormecidos
esgotados até a última gota
noturna do prazer,
em sonhos nos procurávamos
e despertávamos com nossos
corpos atracados
como o mesmo frenesi de toda vez.
E pelo novo amanhecer
no vapor carinhoso do café
nossos olhares já combinavam
atrasar a volta pra vida comum
sob o pretexto de uma desculpa qualquer.
Mas agora condenado pela mesma
falta de justiça de outrora,
só me resta tentar propor
ao tempo e ao luto
que sejam gentis e breves,
mesmo sem nada,
além de solidão,
para oferecer em troca.