Desespero Francês

Em um envelope empoeirado,

Num papel de caderno amassado,

Demonstrava sentimento puro e tardio,

Como água fresca em um cantil.

Quiçá sabe-se quanto suas transgressões,

Por um dizer demorado entre primaveras,

Perpétuo entre os verões,

De consequências severas.

As palavras bailaram em versos,

Transeuntes entre linhas e pontos finais,

Iguais maestros e seus servos,

Frutas sazonais.

Entendo o medo de amar na despedida,

Mas escapar deste sentimento,

Um beco sem saída,

Por trazer sempre sofrimento.

Inicialmente com nossos apelidos,

Saudações que traz saudade,

Copulando entre os isolados,

Vos enchendo de vaidade.

Começando sendo franca,

Falando das folhas de outono,

O clima estranho da França,

Diferente de Estocolmo.

As ruas pedregosas,

O fumo e o cigarro,

As pessoas asquerosas,

O passeio de barco.

A torre Eiffel não faz sentido sozinha,

Diz ser língua do amor,

Mas não digo seu nome diariamente,

Tudo que aprendi foi o silêncio da dor.

O Arco do Triunfo,

Não traz a vitória da Alvorada,

Na verdade,

Não me traz nada.

A ponte dos cadeados,

Em que coloquei nossas iniciais,

Com cadeado que não fecha trinco,

Não o achei mais.

O Museu do Louvre?

Quem disse que pude ver,

Que dentre os renascentistas,

Não vi eu e você.

Tampouco iluminismo,

Olhei nos olhos de Jesus,

Achei um pouco de cinismo,

Sem os olhos que me seduz.

Dentre todos os anjos,

Desnudos entre os céus,

Não havia vergonha,

Não havia véus.

As catacumbas,

Sentenciadas na lembrança,

Foi onde lembrei de ti,

Onde o osso dança.

Procurei por um túmulo,

Nesse labirinto cadavérico,

Mas foi o cúmulo,

Desse romance Maquiavélico.

Por fim, Notredame,

Para ouvir suas badaladas,

Dos últimos momentos,

Da despedida, da ficada.

Provavelmente não me esperas,

És fluido em solidez,

Te espero onde queiras,

Como amada em viuvez.

Espero que ela o faça feliz,

Como nunca fiz,

Tenham mais sorrisos e felicidade,

Depois de tanta atrocidade.

Dá vontade de voltar,

Largar todos os sonhos possíveis,

Se soubesse de tempos difíceis,

Preferia a derrota que solidão.

Éramos tão jovens, imaturos,

Ao mesmo tempo, sortudos,

Poderia ter sacrificado.

Para ficar ao seu lado.

Acho que é um adeus,

O último grito francês,

Não sendo tão cortês,

Até a próxima vez.

Orrevua.

Numa realidade utópica,

Podemos nos encontrar,

Como estranhos nas ruas ao passar,

Nossos olhares, amarrados.

Mas pensando bem,

Somos estranhos também,

Só compartilhamos memórias empoeiradas,

Memórias doces e terminadas.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 28/01/2021
Código do texto: T7170428
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