Poema da Melancolia Existente
era noite.
e o silêncio completava a cor escura da imagem.
uma imagem gélida diante de mim.
sussurrava o vento em meus cabelos e em minha pele.
sussurrava frio e lúgubre.
era noite. era tarde da noite. era um lugar triste.
as árvores ficavam escondidas nas montanhas desertas,
assim como desertas eram os sonhos de uma criança.
havia um rio. havia uma lagoa. havia o ser humano.
havia um rio seco, morto, agreste, poluído.
o sol precisa pousar naquele templo ávido.
onde lançam orações confusas e sombrias.
falam línguas mortas, silenciosas e profanas.
a linguagem da guerra, do ódio.
meu coração arde de medo, receoso.
bebo um gole amargo de café: fel das madrugadas.
era noite.
há um vazio na canção da saudade.
vazio que se enche de escassez, e almas minguadas.
era noite de silêncio sussurrante e gélido.
havia uma vida bem longe, distante, remoto.
e eu segurando meus desejos num horizonte perfeito
para uma cena de terror, horror: exclusiva realidade.
a lua pousa tênue e lânguida no leste das emoções
esquecidas de todos nós: poetas e crianças amofinados
pelos pesadelos ferrenhos, tinhosos e indeléveis.