Vielas.

Me afasto
sem querer.

E disfarço
quando vê.

Todos cometem erros.

Todo mundo machuca
sem querer.

Me afasto.
Por vergonha ou medo.
Não de me ferir,
mas de sorrir.

Inventei desculpas, inventei mentiras.
Inventei meu reino que sempre busquei.

Agora sozinho, abandonado como um gato de rua,
que madruga pelas vielas e becos sem saída.
Pulando de telhado em telhado,
procurando uma tigela de leite e um abraço.

Me afasto.
Pessoas dizem coisas,
pessoas que me afasto.
Pessoas são pequenos enxames de abelhas,
são pequenas tempestades de areia nos olhos.

Ninguém esquece tão fácil.
De noite é que custa caro,
todas as formas de lembrar
o que se deixou no passado.
Cicatrizes não são baratas.

Desculpas não trazem certas coisas de volta.
Assim segue sorrateiro,
fingindo não estar ali.

Em cada canto,
em cada fechadura.
Em cada abrir da geladeira
e soar da revoada incansável
em cima dos meus telhados.

- Hudson Henrique

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