PRISIONEIRO DE MIM
Não entendo. Estou confinado, perdi a liberdade sem cometer delitos.
Só, entre quatro paredes, questiono tal severidade que me angustia.
Fui moleque travesso, percorri espaços infinitos, a natureza amiga, minha confidente, foi parceira de minhas travessuras. Ousei enfrentar perigos e suplantei todos os desafios.
Nas corredeiras dos rios me lançava do alto e mergulhava sereno nos remansos que as cachoeiras se acalmavam e ali brindava a natureza amiga que mostrava todas suas belezas.
Um passarinho cantando me fascinava com seus lindos gorjeios. Borboletas de todas as cores sugavam o néctar das flores e o pólen da vida levavam para que outras vivessem.
Fui crescendo. Busquei ensinamentos. Uma família estruturada era o alicerce para que trilhasse os caminhos muitas vezes pedregosos e jamais neles me deixei cair.
Conheci o amor. Encontros fortuitos, apressados, troca de olhares, tímidos à principio, apaixonados depois, e me entreguei.
Criatura linda, perfil generoso, lhe entregava flores e as reciprocidades aconteciam. Formamos família, sementes generosas que frutificaram. Perdi-a numa doença cruel.
Enfrentei a solidão, angustiante e as lembranças ternas dessa criaturinha jamais deixaram de existir. Deus à levou para enfeitar seus jardins, uma flor de inigualável beleza.
Tempos sofridos, tristes, tempestades se formaram em meu horizonte, mas jamais naufraguei pelas estruturas construídas, só a solidão forte e as saudades me abatiam.
Conheci um novo amor. Presença linda, cativante, momentos sublimes vivemos. A vida se tornou novamente um lindo jardim florido. Um dia partiu. Deus à acolheu e triste chorei.
Sou agora prisioneiro de mim. A liberdade perdi. Entre quatro paredes guardo as lembranças, algumas tristes ,outras generosas, muitas delas enfeitadas de flores.
Jairo Valio - 10-01-2021