Contra-canção
Se uma canção tem que ter
Amor, sorrisos, bem viver
Me desculpem, então!
Trago comigo uma contra-canção...
Aqui, debaixo desta surrada
Capa de chuva...
Sim, foi composta em dias
Tristes
De dor, lágrimas e solidão
(O maior isolamento é o da incompreensão...)
Não tem bela melodia,
Mas o ardor
De um toque de marcha
Fúnebre
(Lúgubre)
Como máquina a vapor,
A rumar, célere, para o Inferno...
Tem o frio de incontáveis invernos
E os versos, sem esperança
Do choro de todas as crianças
Da Roda dos Enjeitados!
(Não sei se um réquiem... ou um fado...)
É fato: nem toda a existência
A alegria perpassa...
Toma, então, minha contra-canção
Quem sabe, teu coração
Vê o belo em minha desgraça?