Absinto
Vou lhes contar como me sinto
Vendo passado e futuro
No fundo do bálsamo verde
Absinto...
Lamento, mas é indispensável
O entorpecimento
Diante de tantas frustrações
Desalentos,
Indiferença e brutalidade.
Se eu tenho que ser a máquina
A cumprir sua função
Na sociedade
Se o meu sentir é questionável
Ou proibido
Se a minha identidade, no momento
Só incomoda
O "equilíbrio" do sistema
(Não, não tenhas pena!
De certa forma também sou culpado)
Deixe-me viver, então,
No piloto automático
Ajustando as engrenagens
Desde "Admirável Mundo Novo"
E voltar para casa
De novo
Com graxa nas mãos
(à guisa de meu de sangue...
Meu sangue!)
Um pouco mais diminuído do que saí
Na manhã anterior
Pois, aqui,
Não se morre de uma vez,
Amigos...
A Morte corrói qual ácido,
Por anos a fio
As almas a quem rouba a esperança...
Não quero mais nada
Não me restou sequer
A vontade de querer.
Preciso só me entorpecer
Com o líquido verde e,
Após minhas noites de pesadelos
Estar pronto para a próxima jornada
De uma rotina plena
De nada...