Absinto

Vou lhes contar como me sinto

Vendo passado e futuro

No fundo do bálsamo verde

Absinto...

Lamento, mas é indispensável

O entorpecimento

Diante de tantas frustrações

Desalentos,

Indiferença e brutalidade.

Se eu tenho que ser a máquina

A cumprir sua função

Na sociedade

Se o meu sentir é questionável

Ou proibido

Se a minha identidade, no momento

Só incomoda

O "equilíbrio" do sistema

(Não, não tenhas pena!

De certa forma também sou culpado)

Deixe-me viver, então,

No piloto automático

Ajustando as engrenagens

Desde "Admirável Mundo Novo"

E voltar para casa

De novo

Com graxa nas mãos

(à guisa de meu de sangue...

Meu sangue!)

Um pouco mais diminuído do que saí

Na manhã anterior

Pois, aqui,

Não se morre de uma vez,

Amigos...

A Morte corrói qual ácido,

Por anos a fio

As almas a quem rouba a esperança...

Não quero mais nada

Não me restou sequer

A vontade de querer.

Preciso só me entorpecer

Com o líquido verde e,

Após minhas noites de pesadelos

Estar pronto para a próxima jornada

De uma rotina plena

De nada...

Sergio Vinicius Ricciardi
Enviado por Sergio Vinicius Ricciardi em 27/12/2020
Código do texto: T7145092
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