Eu vivo uma farsa

Sou um nato farsante.

Pior que isso

Sou um apanhado de mentiras

Insolentes

Que vem por acaso

Na mente de um outro ser.

Nem sei se existo

Ou se fujo

De todos os medos

Por todos os meios

Eu procuro

Me esconder.

São os medos que te tornam vivos.

São eles que ditam o que é real.

Vivi tanto tempo sozinho

Que nem me lembro direito

O gosto do gostar.

Quero tanto entender

Qual o cheiro do querer

Do ter

Qual o sabor

Do teu olhar.

Eu sou uma farsa.

Nem consigo mentir direito

Ando por aí com meu peito

Em estado catatônico.

E de tanto viver comigo

Já não me aguento.

Qual o sentido do vento

Se me prendo em paredes brancas.

Qual o sentido da vida

Se nem sentir eu suporto.

Sou o que restou

A sombra do que um dia eu fui.

As gotas de mim pelo chão

Em tantos caminhos andantes

Só me resta admitir então

Eu sou o maior dos farsantes.