Eu Obscuro

Olhei minha face

No fundo do poço

E o que vi não foi reflexo

Confesso...

Foi o lodo

Do fundo,

Escuro, profundo...

Eu obscuro!

A face do monstro

(Eu mesmo?)

Deixou-me inquieto,

Chocado...

Ainda me pergunto

Como cheguei a me tornar “ele”

(Eu mesmo...)

Quantos ideais se perderam,

Quantas bandeiras

Foram queimadas...

E em troca do quê?

Das “trinta moedas”

Que o Sistema paga

Do prato de comida, do teto

E de “uma hora” de Sol

No pátio dessa prisão

De horas eternas?

Da possibilidade de me tornar, eu mesmo

O que sempre odiei e temi?

E, em troca disso

Será que vendi

Minha alma

E meu coração?

E o que restará de mim, então?

Um corpo sem vida e vontade,

Autômato...

Cumprindo cegamente ordens,

Cometendo assassinatos diários...

Lavando suas mãos sanguinárias

Na Pia de Pilatos...

Sem coragem de contemplar o espelho, pois

Além da face hedionda do monstro

(Eu mesmo!)

Inda mais tenebrosa

É a visão que paira,

Etérea, refletida

Logo atrás...

A beleza do que poderia ter sido...

(E não foi!)

Se eu tivesse alguma coragem,

Menos juízo

E um pouco mais de fé...

Feitas essas reflexões,

Convido a culpa do que já sou

E o horror do quê antevejo me tornar

A me ajudarem a cavar

Pois há muitos corpos insepultos a esconder

De mim mesmo...

Sergio Vinicius Ricciardi
Enviado por Sergio Vinicius Ricciardi em 21/12/2020
Código do texto: T7140604
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.