ÁGUA DO MAR
Quando enfim alcançou os meus lábios
Eu pude sentir o quão a água era salobra
Mas o amargor remetia-me a algo peculiar
E já não causava-me a repugnância ou asco
E pensar que eu tanto desejei conhecer um dia
Pudesse trazer ao mesmo tempo: tempero e sabor
Um desejo onírico que meu coração ornava com alegria
Mas que não passou de uma desventura com certo estupor
Em êxtase quando meus pés já não tocavam mais o chão
Eu sentia que estava sendo levado como no balanço do mar
Quando na verdade estava prestes a ser engolido num alçapão
E faltava somente um mediato na breve preparação deste altar
Se fosse incauto como da primeira vez eu iria me afogar
Pois ao tentar vencer o que eu não podia dominar
Não mais caberia o semblante de estarrecido
Ao consumar o inevitável quando aturdido
O medo era desencadeado por uma razão
A qual eu desejei esquecer por um dia
E não seria um gesto de ingratidão
Abreviar toda aquela melancolia
A dor que não cabia mais em mim
Agora era a minha única companhia
E todo esforço levava ao descaminho
Logo que minhas forças esvaiam-se
Acatando o perjúrio do abissal
Segui à risca a indicação dolosa
Para um coração ao estado fractal
E uma vida sem muitas respostas
Destoante do meu áureo escopo
Vi que não era na água do mar
Que tanto banhava o meu corpo
Mas nas minhas lágrimas a rolar