ÁGUA DO MAR

Quando enfim alcançou os meus lábios

Eu pude sentir o quão a água era salobra

Mas o amargor remetia-me a algo peculiar

E já não causava-me a repugnância ou asco

E pensar que eu tanto desejei conhecer um dia

Pudesse trazer ao mesmo tempo: tempero e sabor

Um desejo onírico que meu coração ornava com alegria

Mas que não passou de uma desventura com certo estupor

Em êxtase quando meus pés já não tocavam mais o chão

Eu sentia que estava sendo levado como no balanço do mar

Quando na verdade estava prestes a ser engolido num alçapão

E faltava somente um mediato na breve preparação deste altar

Se fosse incauto como da primeira vez eu iria me afogar

Pois ao tentar vencer o que eu não podia dominar

Não mais caberia o semblante de estarrecido

Ao consumar o inevitável quando aturdido

O medo era desencadeado por uma razão

A qual eu desejei esquecer por um dia

E não seria um gesto de ingratidão

Abreviar toda aquela melancolia

A dor que não cabia mais em mim

Agora era a minha única companhia

E todo esforço levava ao descaminho

Logo que minhas forças esvaiam-se

Acatando o perjúrio do abissal

Segui à risca a indicação dolosa

Para um coração ao estado fractal

E uma vida sem muitas respostas

Destoante do meu áureo escopo

Vi que não era na água do mar

Que tanto banhava o meu corpo

Mas nas minhas lágrimas a rolar

Heloi Lima
Enviado por Heloi Lima em 20/12/2020
Código do texto: T7140229
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