Spleen Indesejado
I.
Aquela dor arcaica, tão antiga quanto a treva
Evoca, mais uma vez, demônios inexorcizáveis.
O cosmos perde a cor, a ordem. A tristeza se eleva.
Tudo me causa angústia e medo, mais uma vez.
O véu da ternura se mostra fino qual a bruma,
Tudo o que havia de bom se desintegra lentamente,
A cinzidão do desespero toma conta da minha mente
E me consome. Até não sobrar porra nenhuma.
Memórias ruins ecoam como sussurros satânicos,
Eu quero o silêncio, a mansidão que havia em mim
Que se foi naquele momento, que não está mais aqui.
Não há mais nada aqui, além desse sentir neurastênico.
II.
Aquele ódio de si, o desejo de auto-destruição,
Coexiste comigo, a cada momento vão,
O espelho, as palavras de quem amo, me incomodam
O mundo se torna o meu inimigo.
Eu desejo punição, sinto necessidade de auto-flagelo,
Mais uma vez, odeio tudo o que vem de mim,
As minhas palavras, a minha voz, o meu toque,
Mais uma vez, quero que tudo isso tenha um fim.
Me sinto horrível, abominável. um monstro entre os homens,
Me sinto indesejável, insuficiente, perverso.
Eu desejo punição, eu luto contra mim
Para não punir-me a mim mesmo.
Mas se pudesse, confesso
Multilaria meu rosto com um aguilhão,
Desferiria golpes contra mim, até que sangue jorrasse,
Perfuraria-me mais de um milhão de vezes
Procurando conforto nessa aculputura sombria
Punindo a minha existência
Enfadonha e indesejada,
Me confortando na dor física