Retrato de uma mulher infeliz
Calçou uma sandália que nunca teve, o salto na bolsa era alto.
Sorriu timidamente com um batom que só assistiu pela TV;
Vestiu no imaginário a blusa de lese que viu em um filme.
Cantarolou músicas em silêncio, na verdade sua voz chateia.
Gira em seu pensamento; gira. Mas uma valsa jamais bailou.
Abraçou demoradamente um homem que sequer existiu.
É forte, reclamação nem pensar: nasceu uma rocha indolor?
O ramalhete jamais chegou. Na alma a gravação: isso é bobagem!
No mar de lágrimas viaja com medo, onda que tapa o beijo.
Poeira; móveis no canto; ventania diária dum copo que espuma.
Tão nova, linda. Cheia de vida tirada. Talvez a atitude tenha morrido.
Uberlândia MG