Célia.
Ela voou em direção a janela, tentando chegar até o sol da manhã. Aquele sol doce e cinzento, que a neblina sempre gosta de enferrujar.
Quando saiu de casa, ela olhou lá embaixo...
Sim, olhou pra aquela cidade suja, sexy e malvada...
SP-bairro São Miguel.
Depois disso, ela sentiu o gosto do mel azedando os seus lábios. Aquele mel velho, amargo e atemporal.
Ela se viu nua sobre os espelhos dos prédios...
Ela viu a doce Célia ...
Célia borboleta...sonhadora.
Ela flutuou lentamente até os narizes de Thor- o Deus louco-trovão. Sentiu as melodias quilométricas de Ares- o Deus solitário da guerra. Depois se voltou a olhar pra aquele bairro sujo e selvagem-São Miguel.
São Miguel: a terra dos sonhadores perdidos e desolados.
E ela caiu lentamente até o trilho na estação São Miguel.
Oh Célia doce!
Célia borboleta sonhadora!
E se viu chorando com a chegada do trem triste e metálico. Pois sabia que não é mais uma borboleta.
É apenas uma pessoa machucada, num mundo cheio de feridas.