A VIDA
Eu hoje decidi: nada de poemas!
Acordei e percebi que cresci, percebi que o mundo é bem oposto ao que supus em dias pretéritos.
Aprendi a reinterpretar conceitos que me pareciam absolutos, como: o que é a verdade? A lógica? O certo? O moral e o óbvio?
No fim entendi que como tudo na vida são absolutos apenas em si mesmos.
Aprendi que rosto bonito e boa família são reflexos no espelho de uma conta bancária.
Aprendi que não sou eu que ligo e programo a tv - é o oposto.
Aprendi que castelo de deputado é troco face ao barraco do pobre.
Aprendi que para os homens vale tudo pelo prazer da mulher desejada, mas para a mulher nenhum homem vale mais que uma tarde no shoping.
Aprendi que os oprimidos se tornam os piores opressores quando mudam de lugar.
Aprendi que somos negros e pobres, se alguma quota nos beneficiar.
Aprendi que o pão e circo do antigo imperio romano agora se chama bolsa família e micareta.
Aprendi que a sociedade chama o mentiroso de inteligente e o sincero de grosseiro.
Aprendi que ser honesto é sinônimo de fraqueza.
Aprendi que a menor das traições ocorre na cama e que os verdadeiros infiéis usam asas e auréolas.
Aprendi que quando falo o que não gostam, devo ser calado por leis; mas quando não gosto do que falam, essas mesmas leis me condenam.
Aprendi que todo mundo me ama até a hora em que viro as costas.
Aprendi que os canalhas estão sempre rodeados de admiradores e a solidão é o lar das pessoas de bem.
Aprendi que alienígena é quem não fuma, não bebe e não se droga.
Aprendi que sou considerado o maior dos mentirosos simplesmente porque afirmo que odeio a mentira.
Aprendi que minhas 999 qualidades serão sempre menores que meu único grande erro.
Aprendi que todo o perdão dura apenas até a próxima discussão.
Aprendi que a melhor maneira de sofrer é amando primeiro.
Aprendi que era mentira essa historia de que homem não chora...sou um homem e já não faço outra coisa, ainda que sem lágrimas!
Verdade, lógica, moral, certo, óbvio...existem tais coisas?
Talvez sim, mas certamente sob a conveniência de seus arautos.
Eu nem queria fazer disso um poema, mas a tragédia também é lírica e como as tristes canções, é nada menos que a arte da dor necessária.
Ainda bem que eu cresci para fazer da poesia o meu refúgio;
Ainda bem que a poesia existe para me fazer voltar a ser criança!