Indolência
Sinto a tarde.
Vejo-me perdida, desconectada, desarmada.
Disfarço, debalde, toda a dor sentida, toda alegria ceifada.
Já não vejo as horas.
Ignoro o tempo que a mente percorre.
Apenas sinto a tarde
como quem sente a vida que pelas veias escorre.
Sinto a tarde
no dia que declina,
na tênue luz que se definha,
na sombra que se inclina e bloqueia meu sol.
Sinto a tarde
que se impõe, cheia de urgência.
Sinto a presença da voz que se altera,
suplica clemência, pois a vida austera
derruba o covarde e a voz silencia.
Sem fazer alarde, sinto a tarde
que me cobra o sol,
mas que me paralisa, se ainda houver vida,
até o novo arrebol.