Pêsames
Encontrei minha tristeza afogada em um copo de bebida barata.
Não havia tempo para o velório, era preciso enterrar.
Faltava lágrimas e luto, não deu tempo de comprar.
Suas lembranças faziam roda em torno de mim, cantando alto, músicas ruins...
Não é necessário convidar, nem ao menos receber. Ninguém virá, ninguém verá.
A morta leva muito dos vivos, leva para a escuridão, para neblina e para o frio.
Trata-se de um enterro muito incomum, muito desajeitado, improvisado, exatamente como a morte deve ser: uma visita inusitada.
Descansar não é possível. Os ruídos não cessam. As memórias sufocam e as fraquezas espreitam.
Como não podia faltar, apenas passei em casa para deixar meu coração; estava muito pesado para carregar.
Lá chegando fui acolhida pela culpa, sempre tão sincera e envolvente.
Para finalizar a história, descubro o que todos sabiam: que quando as tristezas morrem somos nós que ficamos enterrados, mas com a cabeça para fora para testemunharmos.