Abstração

De uma realidade que oprime o peito

Dor da impotência para alteração

Quiçá imaginar que não me diz respeito

E focar esforços na abstração

Então a concentração como exercício

Fecho os olhos, busco a imaginação

E rogo ao poder supremo do fictício

Que o alheamento me traga salvação

Quem sabe não conceba um paraíso

Vislumbrando descanso após esta vida

De olhos fechados me escapa um sorriso

Todas as minhas agonias resolvidas

Mas só pode ser um ardil do tinhoso

Não resisti de dar uma espiadela

Ser expulso do paraíso é doloroso

A verdade nua e crua na minha tela

Com som estéreo para todos os prantos

Choro e ranger de dentes como mantra?

O Alcançar do Nirvana causaria espanto

Com esta realidade que se agiganta

Na morte conseguiria ouvidos moucos

E olhos seriam para sempre cerrados

Acho que as vezes quase entendo os loucos

E sua vontade de viverem apartados

Porém sigo discorrendo meus lamentos

Menos por convicção, mais por rebeldia

Querendo exorcizar o sofrimento

Através da plataforma da poesia