O TEMPO

Ela caiu

A maioria riu

Todos viram

Rolou a escadaria abaixo

Aos poucos ela se rendeu à lei da gravidade

O vento foi insuficiente para segurá-la

O ar seco que amarga a cidade negra a empalideceu

Muitos degraus...

e o tempo parou para ela e continuou para nós.

Sacudida pelo susto

Não percebeu a dor, o terror e a vergonha vermelha de sua pele roxa

Todo mundo espiou

Poucos pararam para ajudar e enxugar as lágrimas da pobre senhora

A velha e mansa, de mãos grudadas à pele, levantava-se cambaleante

Os joelhos no passeio em flor caíram novamente

De sua boca enrugada lágrimas de sangue apareceram

Os poucos que ajudavam foram embora e, de joelhos e solitária...

... a velha contemplou o tempo mais desprezível dos homens.

(Lúcio Alves de Barros – agosto de 2007)