A fermosura fresca serra, um soneto de Camões

A fermosura fresca serra,

e a sombra dos verdes castanheiros,

o manso caminhar destes ribeiros,

donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,

o esconder do sol pelos outeiros,

o recolher dos gados derradeiros,

das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza

com tanta variedade nos ofrece,

me está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;

sem ti, perpetuamente estou passando

nas mores alegrias, mor tristeza.

Luís Vaz de Camões
Enviado por Paulo Miranda em 15/09/2020
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