Ratio legis
Sinestesia lúgubre invade a revés,
Expande e contrai mórbidas sensações.
Sereno viver incerto – aniquilação esparsa,
Vê o ínfimo dejeto de mim que resta.
Resta pouco ou quase nada.
Desmembra e afunila, filtra
Destitui tudo o que era, num
Combate iminente, deserta.
Deserto minguante de si,
No interior há ausência.
Terras contritas, ermo do eu:
Quem viveu por ali morreu.
Paira uma névoa turva sob o véu inócuo do que foi.
Circunda volante matéria do que era e deixou de ser,
Expande o remédio contrito das escolhas e ações…
Sucumbe diante de si delírio, vozes berrantes sem regalo.
Por vezes na vida sentiu que tudo era em vão…
Sem fé alguma, destituído de esperança
Inóspito e doído, que alma vã.
Vagou sem rumo até o cavo âmago.
Ri de mim, sem coisa alguma,
Calejado e insípido, desnutrido de amor,
Quimera frígida de aflições
Tomando angústia como égide do desolo.
Ri de mim, que sou tolo,
Sendo apenas ausência e buracos,
Sou movido pelo mundo enquanto nado.
Nada, vazio, nulo. Anulo o que restou.
Sem mérito.
Sem glória.
Sem vida.
Sem coisa alguma.
Vive aforismas vãs sem deleite.
Abalo rítmico em infarto,
Ejacula dor e espúria:
Alucinação frívola do eu.
Deserto, nada ao nada
Cumpre a força da lei:
Vida incerta,
Destino miserável – sou eu.