SOLIDÃO ESMAGADORA


Sobressai entre o clarão do dia,
Minha alma solitária e perdida,
Bailando no tempo sem alegria,
Dói o meu sofrimento na partida.

Vai-se os dias e noites de frio,
As brisas se deslizam no espaço,
Não é tanto querer ser livre,
E tão pouquíssima foi opção.

Ilusões nos pensamentos fartos,
Não será a minha única resolução,
De olhar o mundo sem brio,
E rever dentro de mim sem emoção.

Minhas lágrimas não lagrimejam mais,
Cordialidade saiu de dentro de mim,
Explodindo em ideias não quero jamais,
Fugindo, sufocando, gemendo sem fim.

Não sou olhado e nem querido,
Nunca mais fui lembrado,
E hoje mergulho e sou expelido,
Sem páginas e sem diálogos e brado.

Meus passos céleres se desmantelam,
No caminho exagerado da solidão,
Desaparecem os que me consideram,
Não tenho amigos e só destruição.

Nada tenho para ser mostrado,
Como nada posso ofertar,
O que mais tenho é belo,
São os poemas e não querem olhar.

Sou sempre o último da fila,
Distante dos acontecimentos brutais,
Marginalizado em cada sina
No amanhã solitário em cada gruta.

Não perdi o rumo do equilíbrio,
E nem a minha meta razão,
São constantes dos sacrifícios,
Imergido na minha consternação.

Resta-me suar nestes versos,
Abandonado e muito sofrido,
No desespero destas rimas,
Galopando no fonema deprimido.

A dor que maltrata a soledade,
Engana o sentimento ardil,
Desventurado na minha saudade,
Pulsando na minha lágrima pueril.

Tenho que relatar os fatos e motivos,
Deixo somente as dores escritas,
No calor humano ora combativo,
Do meu espírito manuscrito.

Os teus olhos retiram o massacre,
Da dor lastimada sem companhia,
Desamada, violada no lacre,
Aí de mim, eu nada fazia.

Tudo o que escrevo não tem valia,
São trinta e seis léguas de escuridão,
Voando no globo da minha vida,
Sem entusiasmo nesse meu sertão.

Abrindo os olhos no encanto dolorido,
Das minhas palmeiras esverdeadas,
Do coco babaçu desvalido,
Minha única riqueza avaliada.

Não podem transformar em mares,
As palmeiras do palhal em soja,
Único cordão da minha vida,
Fazer fortuna acabando com a candonga.

Vou  ficar triste sem os bem-te-vis,
No desmate das minhas palmeiras,
É de lá que construo estes versos,
Poetizando na vida inteira.



ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 12/11/2005
Reeditado em 15/03/2013
Código do texto: T70358
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