NO SUBSOLO ENCONTREI UM LÍRIO.
Olhei certa noite para os subsolos que um dia construira. Vi vazios singulares repletos de lágrimas; uma torrente que se decaia dos olhos a boca.
Imagens que outrora transitaram como aves, logo perderam seu voou; decairam como pétalas sob terrível ventania.
Houve escuridade e meu olhar penetrou no sorriso indolente. De lá, seus dentes brilharam e comeram minha alma.
Do meu coração, sangue escorreu até a sala; de lá, a dor fez jantar com o medo.
Me atrevi a ver luz e as lâmpadas foram quebradas; ousei acendê-las, e elétrico me lancei.
Onde estão os risos da cidade que de cá não ouço? Quem os interrompeu?
Em que parque as crianças se foram? Em que pianos os dedos se esconderam?
Mas ouvi uma porta a se abrir...
Eis que lá vem saltando sobre os montes, pulando sob os outeiros.
Quem és, que vem subindo do deserto e que tão aprazivelmente vem socorrer-me?
Quem és, que nem água, nem rios, ou enchentes podem te deter?
Quem és, se as sombras se escondem da sua implacável luz?
És, pelo menos para mim, o lírio entre os espinheiros; a rosa que perfuma meus jardins.